Trecho II
Trecho II

O texto é uma relação que só funciona quando o leitor nele interfere para a produção do(s) significado(s).

            Um texto só existe de fato quando tornado presente pelo ato da leitura: “Como aparece na sua superfície ou manifestação linguística, um texto apresenta uma cadeia de artifícios de expressão que devem ser atualizados pelo destinatário”.

Já na década de cinquenta, Maurice Blanchot, em “O espaço literário”, alertava para o fato de que urna obra só passa mesmo a existir quando alguém a lê. E ler não quer dizer apenas decodificar mecanicamente o signo, mas investir nele, fazê-lo apresentar-se, obrigá-lo a dizer a que veio: “Ler não é (...) obter comunicação da obra, é ‘fazer’ com que a obra se comunique”

Para Blanchot, a obra não é uma estrutura fechada, cujo acesso só é permitido aos poucos iniciados, aqueles que detêm o código de entrada, o segredo. Ler faz parte da obra, não é apenas a recepção pura e simples de um objeto acabado, mas a inserção na própria feitura final desse objeto.

            O texto não teria uma estrutura a priori, uma esquematização fixa, mas, ao contrário, estaria sempre em construção, na medida em que seria sempre atualizado pelo ato da leitura.

A garantia de sobrevivência do texto está na sua capacidade não de oferecer respostas prontas e universais, atemporais, mas, principalmente na de gerar novas perguntas no decorrer dos tempos. Um modo de pensar a relação texto-autor que remete à afirmação de Jörg Drews: “A história não diz nada, ela responde”.

O leitor aparece, sob essa nova perspectiva teórica, não mais como um consulente à procura do oráculo: o texto clássico, com a verdade inscrita em suas palavras canônicas. Aqui, ele é um provocador do texto, um provocador de respostas, que não foram as primeiras, nem serão as últimas.